Libertação do Sofrimento - Compreensão


O que é o sofrimento?
Definição: Dor física ou moral; padecimento, amargura.Desgraça, desastre.
O que é o sofrimento?

Buda e o Sofrimento
A principal lição que Buda usava para transmitir seus ensinamentos a respeito da jornada para a felicidade é chamada de As Quatro Nobres Verdades.

A Primeira Nobre Verdade
A Primeira Nobre Verdade é a ver­da­de do sofri­men­to. O Buda viu com per­fei­ta cla­re­za algo que as pes­soas vis­lum­bram oca­sio­nal­men­te: não é possível ao ser huma­no con­quis­tar total satis­fa­ção neste mundo. O sofri­men­to é des­cri­to de mui­tas for­mas diferentes nos sutras budis­tas. As três fundamentais serão abor­da­das nos pará­gra­fos a seguir, deven­do-se obser­var que as clas­si­fi­ca­ções de sofri­men­to apre­sen­ta­das não são quali­ta­ti­va­men­te diferen­tes, mas ape­nas for­mas dife­ren­tes de abor­dar um mesmo problema.

Os dois sofri­men­tos
Os “dois sofri­men­tos” são o inter­no e o exter­no, sendo esta a classificação mais elementar encon­tra­da nos ­sutras budis­tas. Essa é a manei­ra mais bási­ca de com­preen­der o sofrimento. Sofrimentos inter­nos são aque­les que geral­men­te con­si­de­ra­mos parte de nós, como dor físi­ca, ansie­da­de, medo, ciúme, sus­pei­ta, raiva e assim por dian­te. Sofrimentos exter­nos são aque­les que pare­cem vir de fora, incluin­do vento, chuva, frio, calor, seca, ani­mais selvagens, catás­tro­fes natu­rais, guer­ras, cri­mes e assim por dian­te. Não é possí­vel evi­tar – nenhum dos dois tipos.
Os três sofri­men­tos
 Esta é uma clas­si­fi­ca­ção basea­da mais na qua­li­da­de do sofri­men­to do que em sua ori­gem ou tipo. O pri­mei­ro dos três sofri­men­tos é o ine­ren­te, aquele a que esta­mos sujeitos pelo sim­ples fato de estar­mos vivos. O segun­do é o sofri­men­to laten­te, aque­le que está presente mesmo nos momen­tos mais feli­zes: coi­sas se que­bram, pes­soas morrem, tudo enve­lhe­ce e se dete­rio­ra, até os melho­res momen­tos che­gam ao fim. O tercei­ro sofrimento é o ativo, causa­do por estar­mos pre­sos em um mundo de ilu­são constantemente mutável. No mundo da ilu­são, temos pouco ou ­nenhum con­tro­le sobre nossa vida. Sentimos ansieda­de, medo e impo­tên­cia à medi­da que vemos tudo se transforman­do de um dia para o outro.

Os oito sofri­men­tos 
Os oitosofri­men­tos des­cre­vem de modo mais deta­lha­do o sofri­men­to a que estão sujei­tos todos os seres sen­cien­tes e são clas­si­fi­ca­dos com base naqui­lo que os defi­ne. São eles:
Nascimento. Após ­vários meses de peri­go den­tro do ven­tre da mãe, final­men­te, sentimos a dor e o medo do nas­ci­men­to. Depois disso, tudo pode acon­te­cer. Somos como prisioneiros do corpo e do mundo onde nas­ce­mos.
Envelhecimento. Se formos, suficientemente, afortunados para não sermos mortos na juven­tu­de, tere­mos de enfren­tar o pro­ces­so de envelhecimen­to, ­sofrer a dete­rio­ra­ção do corpo e da mente enquanto assistimos o desa­pa­re­ci­men­to de nos­sos ami­gos, um por um.
Doença. A saúde é um pra­zer por ser tão con­tras­tan­te com a doen­ça. Todos, em algum momen­to, ­sofrem a dor e a humilhação da doença.
Morte. Mesmo que a vida seja con­si­de­ra­da per­fei­ta,a morte é ine­vi­tá­vel.A morte, quando não é repen­ti­na e ater­ra­do­ra, é geral­men­te lenta e dolo­ro­sa. Somos como folhas ao vento. Ninguém sabe o dia de ama­nhã.
Perda de um amor. Às vezes, per­de­mos ­alguém que ama­mos; ­outras vezes, nosso amor não é retri­buí­do. Não exis­te quem não sofra por não poder estar sem­pre com aqueles que ama.
Ser odia­do. Ninguém quer ini­mi­gos; entre­tan­to, é difí­cil evitá-los neste mundo.
Desejo não rea­li­za­do. Nossos anseios e dese­jos deter­mi­nam em gran­de medi­da quem somos. Limitam nossa capa­ci­da­de de enten­der o Darma, além de nos causar infin­dá­veis pro­ble­mas. E, o que é pior, a maio­ria deles – jamais chega a ser satisfeita, causan­do-nos duas vezes mais pro­ble­mas.
Os Cinco Skandhas. Estes são: forma, sen­sa­ção, per­cep­ção, ati­vi­da­de e consciência. Eles cons­ti­tuem os “tijo­los” da exis­tên­cia cons­cien­te e o meio para a manifesta­ção do sofri­men­to. Os Cinco Skandhas são como uma fonte ilimi­ta­da de combus­tí­vel a gerar dor e sofri­men­to, vida após vida.
Causas fun­da­men­tais do sofri­men­to 
Nos pará­gra­fos ante­rio­res, mos­tra­mos como os budis­tas veem a vida huma­na atola­da no sofri­men­to. Nos seguin­tes, o tópi­co sofrimento será analisado com mais pro­fun­di­da­de, pelo delineamen­to de algu­mas de suas causas fun­da­men­tais:
O Eu não está em perfeita harmonia com o mundo material. É necessá­rio esfor­ço cons­tan­te para encon­trar­mos con­for­to neste mundo. O clima é sem­pre quen­te ­demais ou frio ­demais, nos­sas pos­ses exi­gem cui­da­do cons­tan­te, nossa casa é muito velha ou muito peque­na, as ruas são muito baru­lhen­tas, os sapa­tos se gas­tam e assim por dian­te. O mundo mate­rial raramen­te se apre­sen­ta da forma como gos­ta­ría­mos que fosse.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com as ­outras pes­soas. Na maio­ria das vezes, não pode­mos estar na com­pa­nhia daque­les com quem gostaría­mos de estar, mas somos obri­ga­dos a supor­tar a presença de pes­soas com as quais temos difi­cul­da­de de relacionamen­to. Não raro somos até mesmo for­ça­dos a conviver com pessoas que aber­ta­men­te não gos­tam de nós.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com o corpo. O corpo nasce, enve­lhe­ce, adoe­ce e morre. O “eu” tem pouco ou ­nenhum con­tro­le sobre esse pro­ces­so.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com a mente. Nossa mente está fre­quen­te­men­te além do nosso con­tro­le, dis­pa­ran­do de uma ideia para outra como um cavalo selvagem ao vento. A ati­vi­da­de men­tal ilu­di­da é a fonte de todo o nosso sofrimento.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com os seus dese­jos. O “eu” pode com­preen­der que os dese­jos geram carma e sofrimento, mas isso não sig­ni­fi­ca que seja capaz de con­tro­lá-los com faci­li­da­de. O autocon­tro­le é difí­cil jus­ta­men­te por­que o que que­re­mos com mais inten­si­da­de nem sempre é o que sabe­mos ser o ­melhor para nós. Se nem mesmo ten­tar­mos con­tro­lar nossos dese­jos e dei­xar­mos que eles tomem conta de nós, o “eu” sofre­rá ainda mais.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com as suas opi­niões. Basicamente, isso sig­ni­fi­ca que nos­sas opi­niões são erra­das. Quando nos­sas cren­ças não estão ali­nha­das com a ver­da­de, cau­sa­mos a nós pró­prios infindáveis pro­ble­mas, pois teremos a ten­dên­cia de repe­tir os mes­mos erros mui­tas vezes.
O Eu não está em per­fei­ta har­mo­nia com a natu­re­za. Chuva, enchentes, secas, tem­pes­ta­des, maremotos e todas as ­outras for­ças da natureza não estão sob nosso con­tro­le e podem, frequentemente, nos fazer sofrer.
O Buda ensi­nou a ver­da­de do sofri­men­to não para nos fazer deses­pe­rar, mas para nos ajudar a reco­nhe­cer com cla­re­za as rea­li­da­des da vida. Compreendendo o alcan­ce do sofrimen­to e a impos­si­bi­li­da­de de evitá-lo, devemos nos sen­tir ins­pi­ra­dos a supe­rá-lo. Reconhecer a Primeira Nobre Verdade é o pri­mei­ro passo de um pro­ces­so que deve nos levar a que­rer compreen­der a Segunda Nobre Verdade.

A Segunda Nobre Verdade
A Segunda Nobre Verdade é a ver­da­de da ori­gem do sofri­men­to, que está na cobiça, na raiva e na igno­rân­cia. Os seres sen­cien­tes acor­ren­tam-se ao penoso e ilusivo mundo dos fenômenos, por causa de seu forte apego a essas fon­tes de ilusão, tam­bém conheci­das como os Três Venenos.

A Terceira Nobre Verdade
A Terceira Nobre Verdade é a ver­da­de da ces­sa­ção do sofri­men­to. “Cessação do sofrimen­to” é o mesmo que nir­va­na, um esta­do que não pode ser des­cri­to por meio de pala­vras. É algo que está além de cobi­ça, raiva, ignorân­cia e sofri­men­to; além da dualidade e das dis­tin­ções entre certo e errado, você e os ­outros, bem e mal, vida e morte.
A Quarta Nobre Verdade 
A Quarta Nobre Verdade é a ver­da­de do cami­nho que leva à ces­sa­ção do sofrimen­to, aque­le que nos mos­tra como supe­rar as cau­sas do sofri­men­to. É o cami­nho rumo ao nirvana. A forma mais sim­ples de supe­rar as cau­sas do sofri­men­to é ­seguir o Nobre Caminho Óctu­plo, que ana­li­sa­re­mos em deta­lhe em outro Capítulo.
A Importância das Quatro ­Nobres Verdade 
As Quatro Nobres Verdades foram os pri­mei­ros e tam­bém os últi­mos ensinamentos do Buda. Ao apro­xi­mar-se do momen­to de sua morte, o Buda disse aos discí­pu­los que, se tives­sem algu­ma dúvi­da quan­to à vali­da­de das Quatro Nobres Verdades, deve­riam se pronun­ciar, pois assim pode­riam obter as res­pos­tas antes que fosse tarde demais. A atenção que o Buda devo­tou às Quatro Nobres Verdades nos 45 anos em que se dedi­cou a ensi­nar assi­na­la a impor­tân­cia que atri­buía a elas.
Para faci­li­tar a plena com­preen­são da men­sa­gem do Buda, seus anos de ensi­no são geralmen­te clas­si­fi­ca­dos em três perío­dos, tam­bém denominados “Três Giros da Roda” ou “Três Giros da Roda do Darma”. Essa divi­são nos ajuda a compreender os ensinamentos do Buda, por­que nos dá três diferentes ângulos, ou pers­pec­ti­vas, sob os quais ver as mes­mas verdades.

O Giro Expli­ca­ti­vo da Roda do Darma 
O pri­mei­ro perío­do do ensi­na­men­to do Buda é cha­ma­do de “Pri­mei­ro giro da Roda do Darma” ou “Giro expli­ca­ti­vo da Roda”. Foi nessa época que o Buda expôs as ver­da­des bási­cas em que se fun­da­men­ta sua ilu­mi­na­ção.
A res­pei­to das Quatro Nobres Verdades, disse ele no Sutra Dharma-chakra (Sutra sobre os Giros da Roda do Darma): “Isto é o sofri­men­to; tem a natu­re­za ‘opres­si­va’. Esta é a causa do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘apego’, ‘aferro’ ou ‘acú­mu­lo’. Isto é a cessa­ção do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘compreen­são’ ou ‘des­per­tar’. Este é o cami­nho para a cessação do sofri­men­to; tem a natu­re­za de ‘cultivo’”.

O Giro Per­sua­si­vo da Roda do Darma 
O segun­do giro da Roda do Darma é tam­bém conhe­ci­do como “Giro persua­si­vo da Roda” por­que se refe­re ao perío­do em que o Buda con­ven­ceu seus dis­cí­pu­los a extinguir o sofrimen­to atra­vés da com­preen­são total das Quatro Nobres Verdades. Nessa época, ele abor­dou essas ver­da­des da seguin­te manei­ra, no Sutra Dharma-chakra (Sutra sobre os Giros da Roda do Darma): “Isto é sofri­men­to, vocês devem com­preen­dê-lo. Esta é a causa do sofri­men­to, vocês devem eli­mi­ná-la. Esta é a ces­sa­ção do sofri­men­to, vocês devem des­per­tar para ela. Este é o cami­nho para a ces­sa­ção do sofri­men­to, vocês devem praticá-lo”.



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